
Não que eu me lembre de como tudo aconteceu, até porque se me fizerem aquela pergunta parva "Onde é que estavas no 25 de Abril?", aí eu responderei que estava a quatro anos e vinte e seis dias de nascer. Por isso nem era ainda sequer um projecto de vida humana. No entanto, fui aprendendo e ouvindo, tanto na escola como na comunicação social, acerca do dia que trouxe a liberdade ao nosso povo, dando-se fim a uma era fascista e implementando-se a democracia.
Mas, com o passar dos anos, é com algum dissabor que me vou apercebendo que as pessoas não souberam lidar muito bem com os termos democracia e liberdade. Existe uma frase que associo sempre ao termo liberdade que é "A minha liberdade acaba onde a dos outros começa". Desconheço o autor, mas ele não poderia estar mais correcto e todos se deveriam lembrar desta frase. Porque nem toda a gente sabe usar a liberdade a que tem direito, muitas vezes acabando, directa ou indirectamente, por colocar a liberdade dos outros em risco. E por falar em direitos, é aqui que entra o termo democracia, muito mal interpretado, a meu ver, por muitos indivíduos. Senão vejamos, associado à revolução existe ainda outro termo que é a cidadania. A cidadania é um conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive. Isto significa que eu, enquanto cidadão deste país, para usufruir dos meus direitos, tenho também de cumprir os meus deveres. Mas como o povo português é pessimista por natureza, pensa mais nos direitos do que nos deveres. Reclamamos por tudo e por nada, lamentamo-nos a toda a hora, protestamos contra os nossos políticos, barafustamos, esperneamos, mas chegada a altura de cumprir-mos os nossos deveres, ala que se faz tarde e fugimos com o cu à seringa. É esta a noção de democracia que o povo português tem, porque está sempre à espera que sejam os outros a resolver os problemas por eles, acomodam-se e só se lembram que tem direito a isto e aquilo mas não se lembram que também têm de cumprir os seus deveres enquanto cidadãos. E enquanto assim for, enquanto não mudarmos a mentalidade deste país tudo ficará na mesma, não passamos de um país estagnado no tempo, que vive quase de esmola. E cabe às gerações mais novas, como a minha, essa mudança de mentalidade, porque o futuro deste país depende de nós. Preocupa-me que cada vez mais sejamos uma sociedade consumista, que não produz, que se deixa andar, que não dá o devido empenho por causas sociais e úteis ao desenvolvimento.
A democracia é, por isso um bem precioso que possuímos e se soubermos dar-lhe um uso devido, poderemos evoluir de forma saudável e civilizada, sem protestos, sem pressões políticas e quiçá tornarmo-nos num país exemplar que não vive só de Magalhães e políticos corruptos.
1 comentário:
Desde que tenhamos interiorizado o que é a liberdade e em que estado viviamos antes do 25 de Abril, creio não ser preciso comemorar na rua com cravos e afins. A consciência e integração é o que conta. :-)
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